Flavio Martins, CEO do Grupo Martins, considera que o estrago econômico da crise do coronavírus pode ser maior que o impacto na saúde do Brasil. “Já vi gente falando que podemos ter mais falidos do que falecidos ao final da crise”, disse o executivo em live transmitida pela XP na manhã deste domingo (22).
O empresário, responsável pela empresa líder no segmento atacadista-distribuidor no país, ressaltou que as duas crises são conectadas, mas que é preciso olhar para o “dia seguinte”.
O grupo tem mais de 115 mil clientes em todos os municípios do país, boa parte deles pequenos e médios varejistas, como mercados familiares e pequenas farmácias. “A gente tem que seguir atendendo esse pessoal para que eles continuem girando. Se deixar de pedalar a bicicleta, ela cai”, disse Martins.
Segundo o CEO, o volume de vendas disparou nos últimos dias. “Percebemos aumento de 25% nas vendas no Rio de Janeiro, 20% em Minas Gerais, 10% no interior de São Paulo. O movimento continua gigantesco, principalmente no setor de alimentos”.
Entre os produtos mais buscados estão o álcool gel (que teve aumento de 3.200% nas vendas), alimentos enlatados, chocolates e até produtos de escritório como laptops, impressoras e roteadores, estimulados pelo fluxo de pessoas que começaram a fazer home-office.
O executivo não percebeu mudanças no abastecimento de mercadorias pelo país, uma preocupação do mercado nos últimos dias. “Ainda não identificamos bloqueio, os transportes estão fluindo, temos conseguindo transitar bem pelos estados. Até agora está funcionando. O objetivo é manter assim”, afirmou.
Cautela com antecipação de consumo
Apesar da explosão do volume de vendas de atacadistas, Martins afirma que já é hora de se planejar sobre a queda no consumo nas próximas semanas, principalmente com o aumento das restrições de circulação de pessoas pelo país.
“Varejistas percebem o aumento de demanda, mas sabem que é uma antecipação de consumo”, disse. “As pessoas estão se preparando para ficar em casa”.
A preocupação imediata é com lojas de materiais de construção, que registraram queda expressiva na demanda, além de empresas do setor de serviço, como restaurantes, bares e hotéis, que verão o fluxo de caixa ser interrompido bruscamente.
Para atenuar os efeitos do isolamento social e a consequente diminuição no consumo e no nível de emprego, o empresário ressalta a importância de medidas do governo. “Devemos pensar já em recuperar a atividade econômica no pós-crise. E o jeito pra mim é pelo crédito, incentivar o consumo pra roda para gerar emprego”.
Mas, acima de tudo, o pedido do empresário é que o mercado tome cuidado com a “infodemia”, o volume excessivo de informações falsas ou superficiais, para ele tão perigosa quanto a pandemia do coronavírus.
“Nietzsche disse que quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você. O cuidado é não ficar olhando muito para o abismo, mas olhar além do abismo. Esperar o melhor e se preparar para o melhor. Garantir a saúde das pessoas para que os negócios possam continuar”, concluiu.