Comemorada pelo futuro governo de Jair Bolsonaro e alvo de protestos da oposição, principalmente do PT, a ida de Sergio Moro para o “super ministério” da Justiça e da Segurança Pública, anunciada na última quinta-feira (1), segue sendo alvo de análises, principalmente da imprensa internacional.
O editor-chefe da revista Americas Quaterly (a mesma que, no começo de 2016, apontou Moro como caça-corrupto) e autor de quatro livros sobre a América do Sul, Brian Winter aponta que duas palavras ajudam a explicar por que Moro decidiu arriscar tudo e aceitar a oferta de Bolsonaro de se tornar o próximo ministro da Justiça do Brasil.
As palavras são as seguintes: “Mani Pulite”, ou Mãos Limpas, em referência à investigação sobre corrupção na política italiana que parecia um divisor de águas quando surgiu pela primeira vez no início dos anos 1990 e traz um paralelo interessante com a Operação Lava Jato.
A investigação das “Mãos Limpas” resultou em centenas de prisões, colocou quase metade do Congresso da Itália sob suspeita e fez com que toda uma geração de políticos perdesse seus trabalhos.
“Mas não demorou muito para que o establishment e as redes criminosas revidassem. A corrupção na Itália, assim, ficou pior no final dos anos 2000 do que tinha sido antes da Mani Pulite, conforme sugeriram diversos estudos. Ao invés de eleger um novo líder limpo, os italianos terminaram com Silvio Berlusconi. Muitos se perguntavam se havia alguma razão para isso”, aponta a publicação.
Moro estudou o caso das “Mãos Limpas” e teve a oportunidade de conhecer vários dos juristas italianos responsáveis ??pela investigação. Em conversas com tom emocional, eles lamentaram que seus esforços não tivessem sido acompanhados pelas reformas políticas e judiciais que poderiam ter produzido um progresso duradouro.
Nos anos que se seguiram, Moro falou com frequência, em particular e publicamente, sobre a necessidade de garantir que a corrupção no Brasil diminua de maneira significativa – para garantir que a Lava Jato não seguisse o mesmo caminho das Mãos Limpas. “Essa missão, acima de tudo, levou-o na quinta-feira a declarar que renunciaria como juiz e aceitaria uma posição no ministério de Bolsonaro”, avalia Winter.
Porém, afirma o articulista, aceitar o cargo tem um alto custo. Com essa atitude, aponta Winter, Moro acaba reescrevendo de forma irrecuperável a história da Lava Jato, decepciona até mesmo muitos de seus apoiadores e dá munição aos críticos que insistem que a investigação era política o tempo todo.
“O registro mostrará que Moro prendeu o principal rival político de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e apenas meses depois aceitou um emprego no governo de Bolsonaro”, avalia o artigo (ponderando que tribunais superiores acataram a sentença do juiz).
Para Winter, Moro concluiu que os benefícios potenciais de aceitar a posição superam os riscos, mas há muitas questões no meio do caminho, além do legado da Lava Jato. Isso por que Bolsonaro já demonstrou tendências autoritárias, enquanto muitos se preocupam com a possível opressão a adversários políticos e a meios de comunicação.
“Moro prometeu a amigos que usará sua nova posição para defender tanto a democracia quanto a Constituição. Mas a experiência de Donald Trump, o ídolo de Bolsonaro, mostra como os auto-nomeados ‘adultos na sala’, como James Mattis ou H.R. McMaster, podem ser pisoteados e, por fim, ignorados. Não importa quais garantias Moro recebeu, há apenas um presidente”, avalia Winter, que cita que Moro pode se arrepender de ter feito esse movimento.
Winter ressalta ser importante saber se Moro aprendeu as lições corretas com a “Mani Pulite”. Antonio di Pietro, o mais famoso juiz da operação, também embarcou numa carreira política após anos afirmando que não faria isso.
Alguns historiadores defendem que a politização das “Mãos Limpas” foi crucial para seu fracasso. Enquanto isso, diz o editor da AQ, Moro acredita, com razão, que sua biografia única e popularidade fazem dele a pessoa certa para garantir a longevidade da Lava Jato. “Mas, se estiver errado, a história pode se repetir. Ou pior do que isso”, conclui ele.
Por: Lara Rizério
Fonte: Infomoney
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