Mais uma sessão negativa para os mercados, expectativas altas para o balanço e visão de desafios para o futuro. Por estes motivos, e assim como no segundo trimestre de 2019, as ações do Bradesco (BBDC3;BBDC4) reagem mais uma vez em forte queda após os resultados do terceiro trimestre, mesmo com a visão dos analistas de um balanço, a princípio, bastante sólido.
O banco teve lucro líquido recorrente de R$ 6,542 bilhões no terceiro trimestre, em linha com as expectativas e 19,6% superior na comparação anual. Em comparação ao segundo trimestre, o lucro líquido recorrente avançou 1,2%. O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) foi de 20,2%, queda de 0,4 p.p. na comparação trimestral, mas alta de 1,2 p.p. na anual.
Apesar do lucro em linha com o esperado, algumas características sobre os fundamentos do balanço desapontaram os investidores, que estavam esperando números bastante fortes (vide o forte desempenho dos ativos nas últimas semanas).
De acordo com a análise da XP Investimentos, apesar do lucro em linha com o consenso, alguns pontos não agradaram. Isso porque o lucro foi impulsionado principalmente por menores despesas com provisão e uma menor alíquota efetiva de impostos. Estas duas linhas estruturalmente não vão ajudar o banco no longo prazo, principalmente com o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) em 2020.
“A margem financeira com clientes desapontou, com um crescimento tímido de 5% anualmente para R$ 12,5 bilhões, mesmo com os esforços do Bradesco em mudar o portfólio da carteira de crédito para pessoas físicas e pequenas empresas. Apesar de esperado, as receitas de serviços também apresentaram um fraco crescimento de 3,7% anualmente para R$ 8,4 bilhões”, avaliam os analistas.
Além disso, o segmento de seguros e capitalização reportou seu pior resultado do ano, com baixa de 3% no trimestre para R$ 3,5 bilhões. No acumulado de 12 meses, seguros cresceram 7% (versus crescimento de 12% no segundo trimestre e de 22% no primeiro trimestre), reforçam.
Os analistas ainda avaliam que, mesmo em um cenário de baixa inflação, o banco tem aumentado significativamente seus gastos. O gasto com pessoal aumentou 12,9% no ano, para R$ 5,7 bilhões, enquanto outras despesas administrativas cresceram 7,3% no ano para R$ 5,5 bilhões.
Aliás, as despesas mais altas foram vistas como o grande destaque negativo para o banco por diversas casas de análise. Durante a teleconferência de resultados, os executivos do banco reforçaram o planejamento para conter os dispêndios. Dentre os planos, está o fechamento de 450 agências até o ano que vem.
O banco reforçou que o fator que contribuiu para a elevação (e que deve continuar no quarto trimestre) é o plano de demissão voluntária, que se encerra nessa quinta-feira e atingiu a adesão de mais de três mil funcionários. Além disso, a instituição financeira está em processo de revisão de contratos com fornecedores.
“Entendemos que temos que melhorar a linha de despesas e vamos tomar medidas. Já no PDD, já tivemos mais de três mil adesões e podemos afirmar que as despesas trabalhistas serão menores em 2020”, apontou Octavio de Lazari, presidente do banco.
Porém, mesmo com os custos em alta, o banco apontou expectativa de manutenção da rentabilidade. As boas perspectivas de crescimento da economia para 2020 e a expectativa de expansão do crédito e receitas com a busca de produtos financeiros, como previdência privada, também guiam uma visão positiva da instituição financeira.