A empresa de auditoria Ernst & Young (EY), uma das maiores e mais importantes do mundo, está lançando um software livre projetado para ajudar clientes corporativos a usarem a blockchain do Ethereum – e deu um passo incomum para incentivar sua adoção.
Anunciado nesta terça-feira, 16 de abril, o novo protocolo da EY, apelidado de Nightfall, foi desenvolvido no ano passado pela equipe da empresa de auditoria. O plano contou com mais de 200 desenvolvedores de blockchain e será publicado em maio. O protocolo foi criado para servir em casos de uso como cadeias de suprimentos, rastreamento de alimentos, transações entre filiais de uma empresa e finanças públicas.
Como outras plataformas de blockchain empresariais, o Nightfall aproveita uma tecnologia chamada prova de conhecimento zero (zero-knowledge proof) para permitir transações privadas em um livro-razão compartilhado. Mas, diferentemente da maioria dos empreendimentos do tipo, o software da EY destina-se a ser executado em uma blockchain pública (no caso o Ethereum), não uma variante privada.
Além disso, o projeto se diferencia pela abordagem incomum que a EY adotou para sua propriedade intelectual. A empresa disse que não vai simplesmente abrir o código – ou seja, liberá-lo com uma licença de direitos autorais permissiva -, mas sim colocá-lo no domínio público, sem licença alguma. Qualquer pessoa poderá utilizá-lo livremente.
“Queremos maximizar a adoção e o envolvimento da comunidade, queremos que as pessoas a adotem, adaptem e melhorem. Se mantivermos a propriedade, as pessoas não investirão tanto tempo e energia em algo que talvez não controlem ”, explicou Paul Brody, líder de inovação global da EY, em uma coletiva de imprensa.
“A MANEIRA MAIS LIMPA DE FAZER TODO MUNDO USÁ-LO É APENAS LIBERAR TUDO, SEM QUAISQUER AMARRAS.”
No entanto, Brody sugeriu que esta foi uma decisão difícil.
“UM ANO DE TRABALHO DE CODIFICAÇÃO. ESTE É UM MILHÃO DE DÓLARES EM COISAS QUE ESTAMOS DANDO.”
Uma distinção
A título de explicação, “código aberto” e “domínio público” não são conceitos iguais.
“Os termos são frequentemente usados como se fossem sinônimos. Legalmente, no entanto, eles significam coisas diferentes”, disse Preston Byrne, sócio do escritório de advocacia Byrne & Storm.
O código aberto, embora permita que o software seja usado sem pagar royalties, significa que o autor retém os direitos autorais e pode, em teoria, revogar ou alterar a licença. Byrne, porém, afirmou:
“NUNCA VI ISSO ACONTECER EM CRIPTOATIVOS NEM UMA VEZ, JÁ QUE A CAPACIDADE PARA INSPECIONAR O CÓDIGO E ALTERAR É UMA PROPOSTA CHAVE DE VENDA PARA ADOÇÃO DE PROTOCOLO.”
O domínio público, por outro lado, envolve uma renúncia de direitos autorais. Isso é mais raro no setor de software, disse Byrne, uma vez que “não fornece uma estrutura de licenciamento clara para contribuições posteriores à base de código”, criando o potencial para disputas se, por exemplo, um código protegido por direitos autorais for adicionado a uma base de código que está em domínio público.
Mas se uma empresa “simplesmente quer doar seu trabalho, sem contrapartidas, não há riscos em liberar para o domínio público”, disse ele.
SAP, Microsoft, Carrefour
De acordo com Brody, as soluções da EY para o Nightfall serão executadas no serviço de nuvem Microsoft Azure e integradas ao software empresarial da SAP, para oferecer aos clientes “a garantia de que não há nada assustador. Essa é uma tecnologia madura apoiada pelas principais empresas de tecnologia do mundo”.
Uma das soluções já em teste é um sistema para rastrear transações de licenças de software para a plataforma do XBox, videogame da Microsoft, disse a EY. Usando a solução, a Microsoft pode monitorar suas interações com vários fornecedores de jogos e evitar litígios relacionados a pagamentos de royalties.
Outros parceiros importantes incluem a cadeia de supermercados europeia Carrefour, que está usando a solução blockchain da EY para rastrear laranjas, ovos e galinhas (a empresa também participa da blockchain IBM Food Trust); o produtor farmacêutico Merck; a vinícola italiana Placido Volpone; e um “fabricante italiano de mozzarella de búfalo” e “uma grande montadora japonesa”, disse Brody.
“As pessoas são muito indisciplinadas na indústria da cadeia de suprimentos”, disse ele, explicando as vantagens da blockchain nessa área. “A beleza do fim do gasto-duplo na blockchain é que, se uma vacina de um centro de distribuição for para uma fazenda, ela precisa sair de um centro de distribuição”. E todo o registro do produto poderá ser verificado.
Tokenização
Um dos princípios mais importantes que a EY está defendendo com o Nightfall é que uma blockchain empresarial não deve lidar com hashes de documentos PDF digitalizados, mas com tokens atrelados a bens físicos.
Ao buscar isso, a EY aproveitou o padrão ERC-721, usado para tokens não fungíveis (NFTs) na Ethereum, cujo exemplo mais famoso são os colecionáveis conhecidos como CryptoKitties. Os consultores da EY incluíram William Entriken, principal autor do padrão, e a criptógrafa Mary Maller, uma das principais pesquisadoras de provas de conhecimento zero.
“Fizemos um grande investimento na tecnologia de tokens”, disse Brody. “Criamos um tipo especial de token, compatível com o ERC 721, para separar um ativo físico da propriedade legal desse ativo.” Por exemplo, um carro está em um navio a caminho de um comprador, mas a companhia de navegação não possui esse carro – que pertence ao detentor do token que representa esse carro.
Mais adiante nesse caminho, disse Brody, será possível distinguir e tokenizar diferentes componentes dos bens comercializados. “Podemos imaginar um futuro em que uma empresa de energia possua uma bateria no seu carro e você possa usá-la sempre que a ligar”.
Grandes possibilidades
Por mais de um ano, Brody divulga os benefícios das blockchains públicas para empresas, o que fez a EY se destacar entre uma multidão de empresas que pesquisam livros-razão privados ou autorizados.
“IMAGINE QUE TODO FABRICANTE DE CARROS E QUALQUER EMPRESA DE REMESSA ADMINISTRE SUA PRÓPRIA BLOCKCHAIN PRIVADA. UM MONTE DE SILOS NÃO SE ADAPTA MUITO BEM”, DISSE BRODY. “EMBORA AS BLOCKCHAINS PRIVADAS SEJAM ÚTEIS, ELAS NÃO RESOLVEM O PROBLEMA DE UMA TRANSFORMAÇÃO MASSIVA E ESCALÁVEL.”
Assim como as empresas se sentem confortáveis usando o armazenamento em nuvem pública, elas também vão abraçar as blockchains públicas, acredita Brody. E a blockchain escolhida para esses fins, na visão da EY, provavelmente será o Ethereum.
A razão é que a grande maioria do dinheiro arrecadado no espaço tem sido para empresas que construíram aplicações em Ethereum, e a grande maioria dos desenvolvedores de blockchain codifica na Solidity, a linguagem de contrato inteligente presente na plataforma.
“ESSE É UM TIPO DE IMPULSO DE DESENVOLVEDOR QUE ME FAZ ACREDITAR QUE, IMPERFEITO OU NÃO, A MENOS QUE ELES REALMENTE ESTRAGUEM, A ESCOLHA É ETERNA”, DISSE BRODY.
Por: Luciano Rocha
Fonte: Criptomoedas Fácil
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