Quem são, o que pretendem e quais os principais entraves para as fintechs no Brasil? E qual a relação com os grandes bancos? Traçar um perfil dessas empresas, que já passam de 500 no país, foi um dos objetivos da pesquisa realizada pela consultoria PwC Brasil e Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs).
Segundo reportagem do jornal Valor Econômico sobre o levantamento, mais da metade dessas empresas (57%) está no Estado de São Paulo. A maioria (26%) tem entre seis e dez funcionários e fatura até R$ 350 mil por ano (30%).
O setor de meios de pagamento corresponde à maior fatia das fintechs (22%), seguido de perto por crédito, financiamento e renegociação de dívidas (21%), bancos digitais (10%), gestão de investimentos (8%), gestão financeira (7%) e seguros (4%).
Outras áreas, somadas, correspondem a 28% do total das fintechs.
Relação com bancos
As fintechs – em especial os bancos nativos digitais – costumam ser apontados como rivais das instituições tradicionais, e até mesmo apontadas como responsáveis por processos de enxugamento de estrutura, como fechamento de agências e demissões voluntárias.
A pesquisa, no entanto, traz um dado diferente: mais de um terço das das fintechs (35%, mais exatamente) enxergam os bancos como parceiros atuais, enquanto 28% os veem como parceiros futuros.
Outros 20% acreditam que os grandes bancos são possíveis compradores estratégicos, permitindo ganho de escala em seus serviços. E apenas 18% veem os bancos tradicionais simplesmente como concorrentes.
A aproximação entre grandes bancos e fintechs pode ser notada facilmente no mercado, seja por meio de parceiras ou aquisições.
O Banco do Brasil, por exemplo, anunciou na última semana parceria com a fintech de empréstimos Bom Pra Crédito (BPC). Dias antes, o Banco BV foi além e comprou a fintech Just, braço do Guiabolso que atua com empréstimos online.
De acordo com o estudo, em geral, bancos e seguradoras veem a colaboração com as fintechs como uma forma de ter acesso à inovação. Já as fintechs encaram a oportunidade como um trampolim para ganhar escala e viabilizar negócios.
“Com o tempo, muitos bancos médios e pequenos vêm se aproximando cada vez mais desse universo das fintechs. Essa visão de que as fintechs vão acabar com os bancos tradicionais não existe”, afirmou Ingrid Barth, diretora da ABFintechs e fundadora da Linker – que oferece contas de pagamento para empresas – em entrevista ao Valor.
Esse cenário deve ser potencializado à medida que as instituições financeiras implementam suas políticas de Open Banking, premissa que incentiva grandes bancos e fintechs a participarem de um ecossistema conectado para melhorar a experiência do cliente.
Lucrativas desde o começo?
Outro dado revelado pela pesquisa é quanto aos entraves enfrentados pelas fintechs brasileiras: mais da metade (52%) encontram dificuldade para atrair recursos humanos; 49% citam empecilhos para alcançar escala necessária para operação; obter investimento e ter reconhecimento da marca foi citado por 43% das empresas.
Mais da metade (58%) das fintechs ouvidas não alcançou o ponto de equlíbrio – o chamado “breakeven” – e ainda dão prejuízo. Segundo a ABFintechs, a experiência indica que esse patamar é alcançado entre três e cinco anos.
Apesar dos entraves, a pesquisa apontou que 50% das fintechs esperavam um crescimento de 100% da receita neste ano e que 63% já atuam ou almejam o mercado externo – Portugal, Estados Unidos e países da América Latina são os mais citados.
Foco no blockchain
Colocado em evidência tanto para negócios como para o setor público, o blockchain está entre as tecnologias mais almejadas pelas fintechs.
Segundo a pesquisa, 44% delas pretendem dominá-la, ficando atrás apenas de inteligência artificial (48%) e machine learning (46%).
O levantamento ouviu 205 fintechs em todo o país nos meses de setembro e outubro.