Bancos Digitais forçam Banco do Brasil, Bradesco e Itaú a fechar agências e mudar estratégia

A presença de bancos digitais no mercado vem sacudindo o setor no Brasil. Sem agência nem filas e com burocracia reduzida, instituições como Nubank, Inter, Original e Agibank, entre outras, entraram na briga por clientes com os tradicionais Itaú, Bradesco e Banco do Brasil.

Essa satisfação já é mensurada pelo setor. A pesquisa Banco Digital 2019, realizada pela Cantarino Brasileiro em parceria com a Exceda, apontou que 30,7% dos consumidores estão bem satisfeitos com os bancos digitais — ou neobanks.

Ao mesmo tempo, segundo a pesquisa, os bancos tradicionais têm 17,5% da preferência dos entrevistados.

Os hábitos atuais do cliente brasileiro propiciam esse cenário mais digitalizado. De acordo com estudo encomendado pela Febraban e desenvolvido pela consultoria Deloitte, 6 em cada 10 transações bancárias atualmente no Brasil são feitas por meios digitais (celulares ou computadores).

Ainda segundo o estudo da Febraban, o número de transações bancárias feitas por celular em 2018 cresceu 24% em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, os aplicativos para smartphone já respondem por 40% do total das operações bancárias no Brasil.

Para se ter uma ideia do crescimento, em 2014 o mobile banking respondia por apenas 10% das transações.

Mudança de agências no Banco do Brasil

Essa digitalização crescente é o principal motivo citado pelos grandes bancos brasileiros para enxugamento de sua estrutura — traduzido basicamente por fechamento de agências e programas de demissão voluntária (PDVs).

No final de outubro o Bradesco anunciou o fechamento de 300 agências em todo o país até o final de 2020. Já o Itaú Unibanco foi ainda mais longe e decidiu encerrar as atividades de 400 pontos de atendimento até dezembro deste ano. Ambos também recorreram aos chamados PDVs para reduzir a folha de pagamentos.

Outra instituição que decidiu enxugar sua estrutura foi o Banco do Brasil, mas optou por um caminho intermediário: requalificar parte de suas agências e transformá-las em “postos avançados”, de menor tamanho e custo de manutenção.

Apesar dos fechamentos, o estudo da Febraban ainda aponta as agências bancárias como diferenciais em relação aos concorrentes nascidos diretamente no universo digital.

“As agências passam por um momento importante de readequação e redefinição de papel, adotando cada vez mais um modelo consultivo. Por mais que se automatizem os processos, a relação humana jamais deixará de existir. E neste contexto, a agência se torna um grande diferencial de disputa do mercado”, diz o estudo.

Um outro levantamento, realizado pela equipe do Instituto QualiBest, revela que mesmo com o surgimento de vários bancos digitais, pelo menos 81% dos brasileiros ainda consideram muito importantes as agências bancárias físicas.

Realinhamento de forças

Estariam os bancos tradicionais sendo ameaçados pelos chamados neobanks? Para Bruno Diniz, professor de fintechs da FGV (Fundação Getulio Vargas), o que está acontecendo no momento é uma readequação no mercado bancário brasileiro:

“Até por uma questão de competitividade é normal esse movimento. No Brasil as instituições sempre buscaram ter uma capilaridade muito grande de agências. Hoje isso já não é preponderante como antigamente porque há o meio digital. Há uma readequação de forças e as instituições tradicionais tem de se mexer”.

Apesar dos atrativos como praticidade, agilidade nas transações e menor burocracia, as fintechs ainda contam com uma gama de serviços limitada em relação aos bancos tradicionais. Há usuários, inclusive, que continuam a torcer o nariz para os bancos digitais.

Para Diniz, essa situação também é reflexo da readequação em curso no mercado, que vai além dos serviços puramente bancários.

“Com o tempo vai tudo se ajustando. Há a possibilidade, por exemplo, dessas fintechs incorporarem outras fintechs para complementar os serviços oferecidos aos clientes, ou mesmo firmar parcerias para essa oferta. Existem vários caminhos que não víamos antes porque a estrutura era muito convencional”.

Para a Febraban, o que existe hoje é um ambiente colaborativo entre fintechs e as instituições financeiras tradicionais, além do fomento a ambientes internos que tragam “soluções caseiras”. “Os bancos desenvolvem estratégias próprias para lidar com esse elemento de inovação”, informa a federação.

De olho no blockchain

Apesar de as criptomoedas ganharem popularidade a cada dia, Diniz ainda não crê em uma atenção dos bancos para esse tipo de movimentação financeira.

Por outro lado, o especialista em fintechs ressalta o interesse crescente das instituições financeiras no blockchain, tecnologia que permite outros usos além das criptomoedas.

“Temos vários movimentos nesse sentido, tanto internos como externos. As instituições estão atuando para não deixar esse fator passar ao largo”.

Um exemplo dessa atenção pode ser notado em outubro passado, com a participação de representantes do Bradesco e do Itaú na IV Conferência Blockchain, em São Paulo.

O Itaú, inclusive, afirma já trabalhar com blockchain, mas sem detalhar em qual área, além de negar qualquer intenção de concorrer com os neobanks.

O blockchain tem ainda no Banco Central um entusiasta. Seu presidente, Roberto Campos Neto, já afirmou que essa é uma das duas tecnologias que vão inovar no mundo financeiro, ao lado do armazenamento de dados em nuvem.

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