Graças a essas medidas, o impacto da quarentena na economia foi menos severo do que o inicialmente previsto. Em junho, quando boa parte dos brasileiros estavam trancados dentro de casa por conta da Covid-19, os principais economistas do país previam uma queda de 6,5% do Produto Interno Bruno (PIB) em 2020. O ano está acabando e, agora, as projeções são um pouco menos pessimistas: retração de 4,40%, segundo os dados mais recentes do boletim Focus, do Banco Central.
“Sem o auxílio emergencial, o PIB teria caído muito mais”, diz Sergio Vale, economista-chefe e sócio da MB Associados. Segundo Vale, a distribuição do benefício adicionou 2,4 pontos porcentuais ao PIB. Pelas projeções da MB, a economia deve recuar 4,3%, ante 6,5% no cálculo anterior.
A economista Alessandra Ribeiro, diretora de Macroeconomia da Tendências Consultoria, diz que o auxílio é o grande responsável pela alta de 4,5% na chamada renda ampliada, que inclui a renda somada por salários, ganhos de capital e transferência social. “Somente as famílias das classes D e E terminam o ano com um incremento da massa de renda de 27%”, diz.
Diversos setores da economia foram beneficiados com esse salto de renda. Entre eles, materiais de construção, móveis e supermercados que, segundo cálculos da Tendências, devem fechar o ano em alta de 9,9%, 9,6% e 5%, respectivamente. Esses segmentos foram beneficiados também pela poupança forçada pela quarentena: sem poder consumir serviços, as pessoas puderam investir em reformas nas casas ou comprar bens.
“O auxílio foi fundamental para ajudar a recompor parte da renda das famílias e puxar o varejo”, diz Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria.
Sem auxílio emergencial em 2021
A partir de 2021, não haverá mais auxílio emergencial, conforme afirmou o presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista no último dia 15, ele afirmou: “Auxílio é emergencial, o próprio nome diz: emergencial. Não podemos ficar sinalizando em prorrogar e prorrogar e prorrogar.”
O elemento complicador aqui é que a economia brasileira está longe de estar engatando um ciclo de alta. O cenário atual é pouco animador. A despeito da vacina, não se espera a normalização da vida tão cedo. O número de casos de Covid-19 voltou a subir – as mortes voltaram ao patamar de mil por dia. Dependendo do comportamento das pessoas nas festas de fim de ano, o quadro pode se agravar ainda mais.
“Quando juntamos a segunda onda de Covid, restrição de atividade e nova quarentena com o fim do auxílio emergencial, vemos uma situação muito complicada no primeiro semestre de 2021”, diz Vale.
O maior problema da economia é que ainda que os dados de emprego melhorem, a renda da população não irá se recuperar a ponto de prescindir do auxílio emergencial. Depois da alta de 4,5%, Alessandra Ribeiro projeta uma queda de 4,2% na massa de renda em 2021. “A melhora gradual do mercado de trabalho não vai compensar a saída do auxílio”, diz a diretora da Tendências.