O que muda nas aplicações de renda fixa com o novo corte da Selic

Conforme esperado pelo mercado, o Banco Central decidiu hoje cortar a taxa Selic novamente em meio ponto percentual, de 5,0% para 4,5% – o menor nível histórico. Com isso, é esperado que o ciclo de reduções tenha chegado ao fim, ou esteja bem perto dele.

Segundo levantamento feito pela XP, a expectativa de gestores de fundos macro é de que haja um corte adicional da taxa básica de juros em 2020, de 0,25 ponto percentual, levando os juros para o patamar de 4,25% até o fim do ano. Sendo assim, o investidor, que já estava com dificuldade para encontrar bons prêmios na renda fixa, passa a ver retornos ainda mais comprimidos nas aplicações conservadoras.

Produtos com retornos pós-fixados, indexados ao CDI, estão rendendo cada vez menos, assim como a rentabilidade da caderneta de poupança, que é atrelada à Selic, também está menor.

Nos últimos 12 meses até novembro, a caderneta rendeu 4,7%. Agora, com a Selic em 4,5% ao ano, o retorno da poupança passa a ser de 3,15% ao ano e segue perdendo para outras aplicações.

Um produto de renda fixa com retorno equivalente a 100% do CDI rende perto de 5,6% neste ano. Descontada a maior alíquota de Imposto de Renda, de 22,5%, a rentabilidade cai para 4,3%, ainda bem superior à da caderneta.

Tão importante quanto a comparação de rentabilidade, o investidor precisa se atentar ao impacto da variação da inflação sobre o retorno final. Para 2020, é esperada uma inflação da ordem de 3,60%, o que, no cenário atual, levaria à perda de dinheiro na caderneta.

Confira a seguir como R$ 10 mil renderiam no próximo ano, considerando três cenários para a Selic: com taxa em 4,5%, em 4,25% e em 4% ao ano ao longo dos próximos 12 meses.

Nesses exemplos, os recursos seriam investidos na caderneta de poupança ou em aplicações que rendessem 100% e 120% do CDI, como CDBs, LCIs e LCAs. Os valores já são líquidos de Imposto de Renda, considerando uma alíquota de 17,5%.

Como investir com Selic a 4,5%?

Os juros baixos vieram para ficar e, com rentabilidades cada vez mais parcas nas aplicações de renda fixa, como investir para ter melhores retornos? Na opinião de assessores de investimento e alocadores de patrimônio consultados pelo InfoMoney, uma nova adequação da carteira deverá incluir não só ativos de risco, como vencimentos mais alongados.

“O investidor brasileiro vai ter que aprender que o tripé de antes, de juros altos, liquidez e segurança, acabou. Era muito bom estar com 1% ao mês garantido, sem ter que se preocupar”, diz Flavio Byron, sócio do escritório Guelt Investimentos.

Nos títulos públicos, a preferência de especialistas dos escritórios Guelt e Monte Bravo Investimentos e da gestora de patrimônio TAG Investimentos recai sobre papéis indexados à inflação de médio e longo prazo, como o Tesouro IPCA+ 2035 e Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2050, que ainda oferecem retornos interessantes e proteção contra a inflação, ressaltam.

Nesta quarta-feira (11), os títulos pagavam, respectivamente, o IPCA mais 3,28% e 3,41% ao ano.

Dan Kawa, sócio da gestora de patrimônio TAG Investimentos, diz gostar das NTN-Bs mais longas, mas não recomenda posições muito grandes, dado que grande parte do fechamento das curvas já aconteceu. No ano, o Tesouro IPCA+2035 acumula ganhos de 37%, enquanto o Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2050 tem valorização de 32%.

Com relação aos papéis prefixados, Kawa afirma que a relação entre risco e retorno não está atraente para nenhum cenário. Na renda fixa privada, a preferência da gestora é por ativos de crédito “high yield”.

“É um mercado nascente no Brasil, com um boom de emissões. Tem muita coisa ruim, que não é de longo prazo, mas muita coisa boa que paga mais, porque o mercado ainda não entende ou porque não tem uma agência de rating com classificação”, justifica o gestor da TAG, em referência a novas emissões que paguem o CDI mais uma taxa de 3,75%, como da empresa de locação de veículos Maestro.

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