Onde tudo se paga com celular, governo lançará yuan digital

Os bilionários Jack Ma e Pony Ma, que construíram impérios financeiros dominando o setor de pagamentos online da China, terão pela frente um formidável concorrente: o banco central.

O Banco Popular da China pretende introduzir em breve uma versão eletrônica do yuan, tornando-se potencialmente o primeiro grande banco central a emitir moeda nacional digital.

Ao fazer isso, a autoridade monetária desafia Alipay (da Ant Financial) e WeChat Pay (da Tencent Holdings) na indústria local de pagamentos, que movimenta US$ 27 trilhões.

Na China, pagamentos com smartphones são onipresentes, usados para pagar passagens de ônibus e verduras na feira — e 94% dessas transações são realizadas pelas duas empresas.

“O banco central está tentando recuperar o poder que perdeu, pois simplesmente não pode permitir que companhias privadas dominem pagamentos que estão no coração do sistema financeiro “, disse Zhu Chen, fundador da consultoria financeira Wisburg, sediada em Xangai.

Pelos cálculos dele, a autoridade monetária pode ficar com até um terço do negócio de pagamentos. “WeChat Pay e Alipay vão apanhar”, prevê ele.

Restam muitas perguntas sobre a ameaça que o yuan digital representa para os empreendimentos existentes, inclusive até que ponto o público estará disposto — ou será forçado — a adotá-lo.

O banco central ainda não definiu um cronograma ou plano de implementação, mas discursos oficiais sugerem que poderia funcionar da seguinte maneira: consumidores e empresas baixariam uma carteira digital no celular e carregariam nela a moeda transferida de sua própria conta bancária, como um saque de dinheiro do caixa eletrônico.

Então, essa moeda digital seria usada para fazer e receber pagamentos.

É sutilmente diferente do que se vê nos pagamentos móveis existentes, que essencialmente processam solicitações a uma conta bancária, como um cartão de débito ou crédito.

Se tiver aceitação, a moeda governamental ajudaria a controlar melhor a oferta monetária.

Os pagamentos móveis para consumo representam 16% do PIB na China e menos de 1% nos EUA e no Reino Unido, onde cartões de crédito são mais populares.

À medida que a nação asiática elimina cédulas e moedinhas do cotidiano, as autoridades prestam mais e mais atenção às empresas que tocam a infraestrutura do sistema financeiro.

“Essas grandes empresas de tecnologia nos trazem muitos desafios e riscos financeiros”, declarou Yi Gang, presidente do banco central, durante uma conferência este ano.

“Nesse jogo, os vencedores ficam com tudo, então os monopólios são um desafio.”

Segundo o consultor Zhu, se os reguladores chineses enxergarem os pagamentos como setor de importância estratégica vital, o governo então terá como alvo pelo menos um terço de participação de mercado para obter controle.

A utilidade da função de pagamento para o público em geral se mostrou tão grande que Tencent e Alipay despejam bilhões no negócio apenas para ganhar participação de mercado.

Embora sejam inerentemente deficitários (gratuitos para o usuário, mas recolhem taxas dos bancos), os serviços de pagamento são meio essencial para manter quase 1 bilhão de pessoas usando os aplicativos e disponíveis para comprar outros serviços financeiros.

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