Normalmente, dias de forte queda do Ibovespa também são seguidos de ganhos para o dólar, uma vez que a aversão ao risco retira a atratividade no mercado nacional e leva a uma fuga para ativos mais seguros (em muitos casos, justamente para o dólar), o que leva a uma alta da moeda americana.
Porém, este movimento típico não está acontecendo na sessão desta quarta-feira (2): enquanto o benchmark da bolsa chegou a registrar queda de quase 3% repercutindo a economia menor com a Previdência e os dados dos EUA, o dólar tem uma sessão de relativa tranquilidade. Às 14h45 (horário de Brasília), o dólar comercial registrava baixa de 0,39%, a R$ 4,1461 na venda.
Logo no início da sessão, a moeda americana registrou ganhos, atingindo os R$ 4,1689. O real chegou a ter o segundo pior desempenho entre os emergentes após a reforma da Previdência ter sido aprovada em 1º turno no Senado, mas com a aprovação de destaque que representou uma desidratação de cerca de R$ 76 bilhões.
Contudo, o real passou a ganhar forças durante o pregão, justamente por um fator que vem limitando os ganhos da moeda brasileira no último mês e que está pesando negativamente na bolsa nesta sessão: o fator externo. A moeda brasileira acompanha os seus pares emergentes, que também sobem ante o dólar em meio a dados apontando desaceleração da economia americana, que reforçam um cenário para o corte de juros pelo Federal Reserve nas próximas reuniões.
De acordo com o CME Group, as chances implícitas nos futuros dos Fed funds de um corte de 0,25 ponto porcentual na reunião do fim de outubro passaram de 62,0% para 76,4% de um dia para o outro, com os novos números da economia.
Na última terça-feira (1), o Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) informou que o índice de atividade industrial dos Estados Unidos caiu para 47,8 em setembro, o nível mais baixo desde junho de 2009.
Menos de uma hora depois, o presidente Donald Trump alegou que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e o seu presidente, Jerome Powell, “permitiram” que o dólar ficasse “tão forte” contra “todas as outras moedas” que os fabricantes do país estariam sendo afetados negativamente pelo câmbio. “A taxa básica de juros do Fed está alta demais. Eles são os piores inimigos deles mesmos, não têm ideia. Patético!”
Já nesta quarta, reforçando os temores com a desaceleração da maior economia do globo, foi informado o dado de emprego do setor privado norte-americano, que mostrou geração de 135 mil vagas em setembro, ante estimativa de 140 mil, de acordo com estimativa mediana de economistas consultados pela Bloomberg. Além disso, houve revisão no total de postos de trabalho de agosto de 195 mil para 157 mil.
Tal cenário de desaceleração foi destacado em fala hoje pelo presidente do Fed de Nova York, John Williams, que apontou que a economia dos Estados Unidos parece forte vista pelo retrovisor, enquanto as perspectivas são mais ambivalentes por causa de inúmeras incertezas e riscos.
“Vimos sinais de desaceleração da economia”, disse Williams na quarta-feira durante palestra em La Jolla, na Califórnia. “Queremos posicionar a política monetária para manter a economia crescendo em um ritmo sustentável.”
Williams e outras autoridades do Comitê Federal de Mercado Aberto do banco central dos EUA votaram em 18 de setembro para reduzir a taxa básica de juros pela segunda vez este ano, após um corte inicial em julho, o primeiro desde a crise financeira de 2008. As autoridades citaram a desaceleração do crescimento global, a incerteza da política comercial e a inflação amortecida como principais fatores. “A verdadeira questão é: para onde as coisas vão daqui em diante, e nesse caso é uma imagem muito mais variada”.
Com essa visão “dovish” do integrante do Fed, que mostra atenção ao ambiente de risco dos investidores, reforçou o cenário de queda do dólar ante as moedas emergentes em geral – e o movimento desta vez não foi diferente para o real.
O real passou a ganhar ainda mais forças por volta das 16h, para uma baixa de cerca de 0,6%, a R$ 4,1366 na venda, quando foi concluída a votação da Previdência em primeiro turno no Senado – sem que houvesse a aprovação de nenhum destaque que representasse uma nova perda de economia para a reforma, algo que era temido pelos investidores.
Fonte: Infomoney