Poupança: retorno teria dobrado em 20 anos com indexação à inflação

Popular entre os brasileiros por conta da facilidade de aplicação e da isenção de Imposto de Renda, a caderneta de poupança segue como um dos investimentos menos rentáveis do país. E tem ficado cada vez pior diante da queda da taxa Selic, com um rendimento hoje que não chega a 4% ao ano. Em 2019 até agosto, o retorno da caderneta ficou abaixo dos 3%, pouco acima da inflação, de 2,54% no período.

Um projeto do governo, porém, poderia mudar substancialmente esse cenário, por meio de uma nova remuneração da caderneta, indexada à inflação. Circulou recentemente no mercado uma proposta indicando que o retorno da poupança poderia começar a ser atrelado à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acrescido de 70% da Selic anualizada, independentemente do patamar da taxa básica de juros.

Em discurso na quinta-feira (26), contudo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, negou a existência de qualquer estudo sobre o assunto. De toda forma, se levada adiante, a ideia teria impacto relevante no bolso do investidor brasileiro.

Levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney revela que, se a poupança tivesse sido corrigida pelo IPCA ao longo dos últimos 20 anos (acrescida de 70% da Selic anualizada), um investidor teria tido um rendimento 109% acima do obtido com as regras atuais.

Desde 1999, a caderneta rendeu efetivamente 337%. O cálculo considera um retorno de 0,50% ao mês até junho de 2012 e, a partir de então, uma rentabilidade que variou conforme a Selic. Quando a taxa estava acima dos 8,5% ao ano, a poupança rendia 0,50% ao mês mais a variação da Taxa Referencial (TR); igual ou abaixo desse patamar, a remuneração correspondia a 70% da Selic mais a TR.

Com a modificação para o IPCA, o rendimento nesses mesmos 20 anos teria mais que dobrado, para cerca de 705%.

Na tabela a seguir, você confere o retorno da poupança com as regras vigentes e as variações do CDI e do IPCA nos últimos cinco, dez e 20 anos até o fim de agosto de 2019, bem como as projeções de como teria rendido a caderneta se estivesse atrelada à inflação.


A mudança representaria um grande avanço em relação à atual remuneração da caderneta e também na comparação com o CDI. Considerando os rendimentos nos últimos cinco e dez anos, a “nova poupança” bateria o principal referencial das aplicações de renda fixa em ambos os casos.

Na prática, se um investidor tivesse aplicado R$ 10 mil na poupança há cinco anos, poderia resgatar hoje R$ 17,3 mil caso o retorno estivesse indexado ao IPCA, R$ 3,5 mil acima do que receberia com as regras atuais. Em 10 anos, a diferença seria de R$ 8 mil e, em 20 anos, cresceria para R$ 36,8 mil.

Para José Raymundo de Faria Júnior, planejador financeiro com certificação CFP, se a proposta fosse aprovada, o investidor perderia o interesse em demais produtos de renda fixa, como títulos públicos, fundos DI, Certificados de Depósito Bancário (CDBs), bem como em Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA). Vale lembrar que a caderneta é isenta de Imposto de Renda e não cobra taxas como de custódia e administração, nem está sujeita ao come-cotas.

Para critério de comparação, o Tesouro IPCA com juros semestrais 2050, título público indexado à inflação com a maior taxa de retorno na atualidade, pagava, na sexta-feira (27), um juro real de 3,51% ao ano. A nova remuneração da poupança implicaria hoje uma taxa anual de 3,85% (70% da Selic atual, de 5,5% ao ano), mais a inflação. E vale lembrar que sobre todo rendimento no Tesouro Direto recai a cobrança de Imposto de Renda. No melhor dos cenários, de alíquota de 15%, o título público mencionado pagaria pouco menos de 3% ao ano.

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