Os três fatores que estão fazendo o dólar subir, mas que pouca gente sabe

Em um mês, o dólar saiu da casa de R$ 3,77 para os R$ 4,15, chegando a encostar em sua máxima histórica de R$ 4,19 nesta terça-feira (27), e nada parece ser capaz de conter a arrancada da moeda americana. Nem mesmo os momentos de alívio da bolsa são refletidos no câmbio, que chegou a sua quarta alta seguida.

Em determinando momento, o dólar comercial chegou a disparar mais 1,25% nesta sessão, seguindo não só o cenário externo, mas também a fala de de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, sinalizando que a autoridade monetária não iria intervir no mercado. Mas minutos depois, o que se viu foi exatamente a atuação do BC.

Foi anunciado no fim da manhã um leilão de dólar à vista imediato, sem ser conjugado com swap reverso (que equivale à compra de dólar no mercado futuro). A atuação, porém, só foi capaz de reduzir os ganhos da moeda americana, que seguiu em alta.

Para Carlos Menezes, gestor de recursos da Gauss em São Paulo, a alta recente do dólar está atrelada a três razões principais, que vai além de guerra comercial ou pessimismo com tensão política. Os motivos são seguintes: busca por hedge (proteção), carry trade menos atrativo e companhias que estão refinanciando suas dívidas em dólar com emissão local.

1) Busca por hedge

No caso do hedge, o que se vê é um cenário muito estressado no exterior com a guerra comercial entre Estados Unidos e China, os juros americanos sinalizando um recessão e a crise na Argentina. Com isso, há uma fuga do investidor para ativos mais seguros, como o próprio dólar.

Neste cenário, ainda existem outros países emergentes que neste momento se mostram mais atrativos, aponta um gestor ouvido pelo InfoMoney.

“Para emergentes, há a máxima de ganhar ou com crescimento ou com juros – e o Brasil não está atrativo para nenhum dos dois”, aponta o gestor. Atualmente, avalia, o México, com taxas de juros mais altas (de 8% ante 6% no Brasil), possui condições mais atrativas para os investidores.

2) Carry trade

Isso leva ao segundo fator que pesa contra a moeda brasileira, o carry trade. Esta operação foi responsável por atrair muito dinheiro estrangeiro para o Brasil nos últimos anos e consiste no movimento em que o investidor toma dinheiro emprestado a juros baixos em países como Japão e aplica em países de juros mais altos.

Até pouco tempo o Brasil era muito vantajoso para este tipo de operação, mas com a queda da Selic para sua mínima histórica de 6,00% ao ano, o carry trade perdeu muito a atratividade por aqui, ainda mais com as avaliações de que os juros podem cair mais este ano.

3) Refinanciamento de dívidas

Por último, neste ambiente complicado de juros baixos com toda a cautela no mercado internacional estimula empresas a trocar o endividamento no exterior por emissões em dívida local, segundo Maurício Oreng, estrategista do banco Rabobank, afirma à Bloomberg.

Quando uma empresa troca a emissão em moeda estrangeira pela divisa local, ela deixa de injetar dólares no mercado. Reduzindo assim a oferta da divisa americana, o que não chega a puxar o câmbio para cima, mas se fosse o contrário, seria um fator de alívio que poderia reduzir a cotação.

Mais que a turbulência externa e a falta ainda de dados concretos de uma recuperação da economia brasileira, estes fatores mais técnicos, como o carry trade estão fazendo com que o dólar se descole bastante da bolsa.

De um lado, o Ibovespa, mesmo com a queda dos últimos dias, ainda acumula 10% de alta no ano, enquanto o dólar opera atualmente em sua máxima desde setembro do ano passado. O tempo de câmbio acima de R$ 4,00 deve demorar para acabar.

Fonte: Infomoney

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