Os fatos que mostram que a Bolsa americana pode estar perto do teto

Não é de hoje que uma parcela dos gestores e analistas prevê o fim do ciclo de expansão da economia dos Estados Unidos – e também da onda de valorização da Bolsa americana, que já dura uma década. Recentemente, porém, o time dos que acham que as ações estão perto do pico ganhou reforços de peso, apoiados em indicadores que, ainda que não sejam uma sentença de queda da Bolsa, sugerem que os preços estão esticados.

Um desses indicadores é o que mede o valor total de mercado das empresas de capital aberto como porcentagem do PIB. No auge da bolha da internet, no ano 2000, as companhias listadas correspondiam a 146% do PIB americano. Logo antes da crise de 2008, a porcentagem era de 137%.

Em 2017, dado mais recente disponível, o número chegou 154% – e certamente deve ser ainda maior, dados os ganhos dos últimos dois anos. A mensagem é simples: quanto mais alta essa proporção, maiores as chances de que uma grande correção esteja à vista.

De acordo com a Bloomberg, esse é um índice bastante utilizado por Warren Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos do planeta, para decidir como aplicar. Atualmente, ele está sentado numa pilha de US$ 122 bilhões de dólares de caixa, pouco mais da metade dos US$ 208 bilhões de sua carteira.

As únicas duas vezes em que esse montante esteve tão alto nas últimas três décadas foram nos anos que precederam o derretimento dos mercados causado pela bolha imobiliária.

Outro dado preocupante para quem aposta na alta da Bolsa: muitos executivos de empresas americanas de capital aberto estão vendendo suas ações. Em agosto, as vendas de papéis detidos por funcionários chegaram a uma média de US$ 600 milhões por dia, nível mais ato desde 2007, segundo informações da TrimTabs Investment Research citados por uma reportagem da CNN.

Diante de números como esses, mais gestores estão ficando conservadores. Stanley Druckenmiller, ex-sócio de George Soros e hoje gestor de um family office, disse em junho que “reduziu a zero” sua exposição ao mercado de ações e “comprou um monte de [títulos] do Tesouro”.

Sem a mesma fama de Buffett ou Druckenmiller, mas com alguns dos melhores resultados do ano no mercado de ações entre os fundos de hedge, os gestores da Sander Capital Management dobraram a aposta no ouro no segundo trimestre, um sinal claro de que a expectativa é de mais turbulência pela frente.

O principal motivo dessa ansiedade é a guerra comercial com a China. No dia 1º de setembro, entraram em vigor novas tarifas sobre cerca de US$ 300 bilhões de importados chineses – com uma nova leva de sobretarifas incidindo sobre outros US$ 250 bilhões em 15 de dezembro.

Mais da metade do total dos bens submetidos às novas tarifas a partir deste mês são de consumo, como roupas, calçados, TVs, fraldas, carne e livros. “Como os consumidores representam 70% da economia, o impacto global pode ser maior [com a nova leva de tarifas sobre os importados chineses]”, escreveu Mike Wilson, estrategista-chefe de ações do Morgan Stanley, a investidores.

Wilson, considerado um dos céticos de Wall Street, diz que as tarifas “que destroem a demanda” só aumentam os temores de recessão.

Globalmente, gestores de recursos também seguem essa linha de raciocínio. Uma pesquisa mensal realizada pela agência Reuters com cerca de 40 gestores europeus, americanos e japoneses apontou em agosto, pela quinta vez consecutiva, um corte nas posições de ações em favor de títulos de renda fixa ou, simplesmente, recursos em caixa.

Do contra

Num prazo mais curto, porém, há quem enxergue possíveis ganhos nas Bolsas. É o caso dos analistas do J.P. Morgan e de Jared Woodward, estrategista global do Bank of America Merrill Lynch.

Falando na rede CNBC, Woodward afirmou que o indicador do sentimento dos investidores do Bank of America caiu para 0,6, contra 1,3 na semana passada, com os gestores de recursos procurando ativos seguros como ouro e títulos com grau de investimento. Segundo os estrategistas do banco, isso significaria uma boa hora para ir às compras.

No radar de quem está mais otimista com a Bolsa, está a expectativa de que o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, possa reduzir os juros em sua próxima reunião, na semana que vem. “Vamos agir de maneira adequada para sustentar a expansão. Não tenho nada além disso para dizer hoje”, disse Jerome Powell, o presidente do Fed, num evento na Suíça no último dia 6.

O dirigente afirmou ainda que não vê uma recessão no horizonte próximo, apesar da desaceleração da economia global. “Não prevemos nem esperamos uma recessão.”

Para Ray Dalio, fundador do maior fundo de hedge do mundo, o Bridgewater Associates – que conta com cerca de US$ 160 bilhões em ativos –, as chances de uma recessão nos Estados Unidos são de apenas 25% neste e no próximo ano.

Juros mais baixos, sem a expectativa de uma crise econômica, de fato podem dar um novo ânimo à Bolsa. A dúvida é até quando.

Fonte: Infomoney

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