Já imaginou sair de casa e pagar o bilhete do metrô, a conta do restaurante e um produto em uma loja sem precisar de carteira ou mesmo sem usar um cartão ou dinheiro em espécie? Em países como a China essa é a realidade já há alguns anos: o smartphone substituiu a carteira.
Pode parecer um futuro distante, mas é uma transformação com esse potencial que o Banco Central promete trazer com o lançamento do Pix, seu novo sistema de pagamentos instantâneos, que tem data de estreia marcada para 16 de novembro
Se por um lado a vida do consumidor deve ficar mais fácil, com um novo sistema mais seguro, rápido e sem custos para pessoas físicas, do outro a chegada do Pix pode colocar em xeque o modelo de negócios de muitas empresas que hoje atuam em diferentes elos da cadeia de meios de pagamentos, como as adquirentes (donas das maquininhas) e as bandeiras de cartão.
E o tamanho desse impacto pode ser significativo: um estudo sobre o Pix, feito pela consultoria alemã Roland Berger, projeta que o mercado de adquirência pode deixar de arrecadar até R$ 13 bilhões por ano em receitas com a chegada do novo sistema.
A projeção considerou o cenário de maior sucesso do Pix, com o sistema funcionando a todo vapor, e, consequentemente, o pior que poderia acontecer do ponto de vista das adquirentes. E a consultoria discutiu os possíveis impactos com executivos do setor.
“Essa projeção leva em conta uma implementação do Pix com forte penetração no dia a dia das pessoas. Isso significa que o novo sistema teria uma adesão em um nível que substituiria os cartões de débito por meio das transferências e pagamentos instantâneos com QR codes, as maquininhas de cartão deixariam de existir e os cartões de crédito ficariam limitados a clientes de alta renda, que usufruiriam dos benefícios dos cartões black”, explica João Bragança, diretor sênior da Roland Berger e especialista em meios de pagamento.
“O Pix vai mudar o fluxo de pagamentos existente. Hoje, para uma transação acontecer é necessária uma conta origem e uma conta destino, mas também um emissor de cartão [banco], uma adquirente [dona da maquininha], uma bandeira de cartão e um processador [que é a conexão entre todos os outros intermediários]”, explica o especialista.
Com o Pix, os intermediários entre as contas deixam de ser necessários, o que pode levar à perda bilionária em receitas citada no início da matéria, no caso das adquirentes.