O otimismo externo respaldou o alívio na cotação, com investidores repercutindo maior expectativa de acordo sobre novo pacote fiscal nos Estados Unidos, tendo de pano de fundo melhora da saúde do presidente norte-americano, Donald Trump (que se recupera da Covid-19) e tentativas de acordo sobre o financiamento do Renda Cidadã no Brasil.
O dólar à vista caiu 1,75%, a 5,5678 reais na venda. É a maior baixa percentual diária desde 28 de agosto (-2,93%).
Na B3, o dólar futuro cedia 2,14%, a 5,5715 reais, às 17h09.
“O mercado está respirando um pouco, curva longa (de juros) recuou, as (taxas) curtas seguem em linha com o fechamento. O dólar está testando nível muito importante no (mercado) futuro”, disse Sérgio Machado, gestor na TRÓPICO Latin America Investments.
Os juros futuros <0#DIJ:> –que vinham sob intensa pressão nos últimos dias– chegaram ao fim do dia em forte queda de quase 20 pontos-base. E o principal índice das ações brasileiras subiu 2,26%, segundo dados preliminares.
O real encabeçou os ganhos entre moedas de risco, mas era seguido por coroa norueguesa (+1,3%), peso colombiano (+1,1%) e peso mexicano (+1%), entre outras divisas. O índice do dólar frente a uma cesta de moedas fortes recuava 0,35% no fim da tarde.
A combinação entre apetite externo por risco e certo “atraso” do real em relação a seus pares patrocinou a recuperação mais forte do câmbio doméstico, que vem de quatro semanas consecutivas de perdas, quando acumulou queda de 6,33% (dólar subiu 6,76%).
Sinais de alguma tentativa de conciliação em Brasília nas discussões sobre o financiamento do Renda Cidadã também agradaram.
O senador Marcio Bittar (MDB-AC) afirmou nesta segunda-feira que a ideia do governo é apresentar na quarta-feira pela manhã a solução para o financiamento ao Renda Cidadã, novo programa de transferência de renda que virá no lugar do Bolsa Família. Ele acrescentou que a proposta respeitará o teto de gastos.
A declaração veio depois de aumento de tensão na sexta-feira por conflitos internos no governo Jair Bolsonaro –sobretudo entre os ministros da Economia (Paulo Guedes) e do Desenvolvimento Regional (Rogério Marinho).
Os constantes ruídos de ordem fiscal, contudo, ainda jogam contra o câmbio mais à frente.
“Acreditamos que a pressão para o apoio contínuo à economia e para um novo programa social permanecerá em vigor”, disseram analistas do Barclays em nota a clientes. “As incertezas sobre as perspectivas fiscais devem manter a volatilidade elevada e impor ao real desempenho inferior em relação aos pares”, completaram.
O real já é a divisa relevante mais volátil do mundo. A volatilidade implícita nas opções de dólar/real de três meses, por exemplo, está em 20,3%, ante 17,5% da lira turca, a segunda colocada.
Em 2020, o real perde 27,93% de seu valor nominal ante o dólar, a maior queda entre rivais emergentes. As moedas de Turquia e Argentina –países com alta inflação e escassez de reservas cambiais– vêm em seguida, com baixas de 23,4% e 22,2%, respectivamente. O peso mexicano recua bem menos: 11,5%.