Nos últimos seis anos a bolsa de valores brasileira investiu R$ 1,8 bilhão em tecnologia para deixar o caminho aberto para um forte incremento de investidores – tanto pessoas físicas quanto institucionais e estrangeiros. Hoje ela já é capaz de processar 30 vezes mais do que as 4 milhões de ordens diárias que chegam na sua plataforma atualmente.
Mas por que a B3 investiu tanto dinheiro e aumentou exponencialmente a capacidade do seu sistema? O motivo está na transformação que vem acontecendo no mercado financeiro brasileiro, que deve mudar não apenas o mundo dos investimentos, mas também o mercado de trabalho.
A redução da taxa de juros para o menor nível da história e o surgimento de empresas independentes de investimentos já começam a provocar uma transformação para um modelo mais próximo dos países desenvolvidos, no qual as ações estão presentes nas carteiras de investimentos de praticamente todos os investidores. “Por isso estamos nos preparando muito bem para o crescimento do mercado”, afirma Carlos Pinheiro, da B3.
A hora das ações
Para se ter ideia, o número de investidores da B3 passou de 564 mil no final de 2016 para 1,4 milhão em setembro de 2019, um crescimento de 150% em menos de três anos. Ao mesmo tempo, a oferta de ações na Bolsa neste ano deve ficar entre as três maiores da história.
Mas isso é só o começo, na visão dos especialistas em finanças. O total de investidores de ações no país representa apenas 1% do mercado potencial. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos mais de 60% das pessoas investem em ações. “No Brasil, a criança costumava receber de presente dos pais uma caderneta de poupança. Nos EUA, ela ganha uma ação da Walt Disney”, compara Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes da B3.
Com crescimento à vista, faltam profissionais
Um dos grandes desafios da indústria de investimentos é encontrar profissionais qualificados para atender essa forte demanda que começa a surgir. Apesar do mercado financeiro pagar excelentes salários, a mão de obra especializada ainda é escassa – o que faz com que os bons profissionais sejam disputados a peso de ouro.
“Muitas vezes precisamos pagar um bônus [conhecido como luvas] para conseguir tirar esse profissional de um concorrente e trazer para o nosso time”, diz o diretor de uma grande corretora de valores.
Se há alguns anos os analistas só trabalhavam nas poucas corretoras que existiam e em meia dúzia de bancos que ofereciam o serviço de research [análise de ações, no jargão financeiro], o crescimento de algumas corretoras e casas de análises independentes ampliaram ainda mais as possibilidades para a carreira destes profissionais. E a tendência é que isso aumente.
“Essas empresas precisam cada vez mais de especialistas aptos a levar informação de forma simples, objetiva e isenta para ajudar os seus clientes na tomada de decisão”, diz Raony Rossetti, CIO da XP Investments.
A carência é tão grande que Henrique Bredda, gestor da Alaska Asset, chegou a citar o problema em um das cartas semestrais da empresa. “Não sabemos exatamente por qual razão ainda não existe um curso específico de graduação em gestão de recursos em renda variável, dado que existe formação para praticamente qualquer atividade profissional. Seria muito plausível uma formação acadêmica para gestão de fundos. Mas não há”, escreveu no segundo semestre de 2018.