Financiar, comprar ou alugar carro; o que vale mais a pena para motoristas de aplicativos?

Resquícios da crise ainda assombraram os trabalhadores, que precisaram buscar alternativas para conseguir driblar os momentos difíceis. Uma das saídas mais populares são os aplicativos de viagens compartilhadas, como a Uber, 99 e Cabify.

Basicamente, com um carro ao alcance, o profissional pode se cadastrar e virar motorista. Mas o custo também pode ser alto, principalmente se o trabalhador não tem um veículo próprio.

No fim, o que compensa mais: comprar ou alugar um carro para começar a trabalhar como motorista de aplicativos?

Cristiano Correa, professor da Pós-Graduação em Finanças do Ibmec, explica quais variáveis a pessoa precisa considerar. “No caso da compra, tem a parcela mensal do financiamento, combustível, impostos, manutenção, seguro e, claro, a depreciação do carro”, diz. Quando pensamos no aluguel, as variáveis diminuem: “há a parcela mensal do aluguel e o combustível”.

Segundo ele, esses são os pontos a serem considerados de maneira geral, mas há algumas questões mais subjetivas.

“Por exemplo, embora a compra do carro possa trazer mais segurança emocional, ou o ‘sentimento de patrimônio’, se o veículo precisar de manutenção, o motorista perderá um dia de trabalho, e faturamento. Enquanto que, se ele opta por alugar, se acontece algo com o carro ele não fica sem trabalhar porque a locadora geralmente oferece outro”, explica.

Por outro lado, às vezes, o carro servirá também para uso pessoal ou pode haver algum outro motivo para a compra fazer sentido naquele momento.

Frederico Perchi, economista pela Universidade de Brasília e professor de Economia, lembra também que o perfil do motorista tem muita relevância.

“A quantidade de horas que a pessoa vai trabalhar no dia também tem impacto nessa conta. Influencia a receita dele, já que é mais tempo rodando, mais passageiros, mas por outro lado também impulsiona um custo que é o da depreciação. Quanto mais ele dirigir, mais vai rodar com o carro, que certamente perderá valor em uma potencial revenda”, afirma.

Dessa maneira, ele explica que não existe uma resposta certa para essa pergunta, “depende de cada caso “, já que há critérios mais subjetivos para mensurar. “Mas maioria das pessoas não poe na ponta do lápis essa conta e toma uma decisão por impulso”, alerta.

Veja o que compensa para você

A pedido do InfoMoney,os professores enviaram dados para uma simulação de valores. O motorista deve adequar suas características e especificidades do dia a dia aos dados informados para ter um valor mais realista.

Foi considerado o carro mais vendido do Brasil, o Chevrolet Onix, na sua versão “Onix Hatch LT 1.0 flex mecânico 0km”, que custa R$ 47.490 e roda em São Paulo. O modelo faz, em média, 9 km/L na cidade e seu tanque possui 54 L. As informações são da Chevrolet.

Vale lembrar que, em São Paulo, uma lei federal determina que os carros dos motoristas parceiros devem ter sido fabricados a partir de 2012, mas alumas empresas de aplicativos exigem carros mais novos que isso.

Ainda, foi considerado um motorista que não tem carro e que vai fazer das corridas com os aplicativos sua fonte principal de renda. Na simulação, ele trabalha seis dias por semana, dez horas por dia e roda cerca de 230 quilômetros por dia, ou 7 mil km no mês.

Simulação A:

Para esta simulação foi considerado que o motorista não tem dinheiro para comprar o carro à vista e precisa decidir entre financiar e alugar.

Compra, considerando que o motorista fará um financiamento em 24 vezes:

Compra: Onix Hatch LT 1.0 Flex Mec – R$ 47.490
Despesas  Em dois anos 
Parcela financiamento 24x R$ 2.370,90 (+)R$56.901
Combustível R$ 4,50/L ou R$ 2.150/mês (+)R$74.520
Manutenção (+)R$4.400
Seguro obrigatório DPVAT (+)R$10
Seguro R$ 2.547,11/ano (+)R$5.094
IPVA Alíquota 4% (+)R$1.900
Depreciação 25% do valor do carro (-)R$11.873
Total em dois anos  R$130.952
Total mensal  R$5.456

 

Aluguel: 

Aluguel: carro econômico 1.0 
Despesas  Em dois anos 
Aluguel mensal 24×1.415 (+)R$33.960
Combustível R$ 4,50/L (+)R$74.520
Total em 2 anos R$108.480
Total mensal  R$4.520
Diferença entre comprar e alugar  R$ 936

 

Simulação B

Nesse caso, o motorista tem dinheiro para comprar à vista e precisa decidir se vai quitar o carro ou se vai alugar e usar o dinheiro que tem em mãos para investir.

Assim, o financiamento é desconsiderado do cálculo e há a inclusão do custo de oportunidade, que ocorre quando você precisa tomar uma decisão que exclui a outra, nesse caso comprar ou alugar o carro.

Funciona dessa maneira: se o motorista escolher alugar o carro e investir os R$ 47.490 que tem em mãos de uma única vez a uma taxa de juros de 4,5% ao ano, poderia conseguir um rendimento de R$ 4.370 ao fim de 2 anos.

Assim, ao alugar o carro ele ainda tem uma “receita” adicional advinda dos seus investimentos e por isso é preciso subtrair (-) o valor na conta. Se ele opta por comprar o veículo deixa de ter essa “receita” mensal, então soma-se aos custos (+).  Veja:

Compra, considerando que motorista tem dinheiro para comprar o carro à vista:  

Compra: Onix Hatch LT 1.0 Flex Mec  – R$ 47.490
Despesas  Em dois anos
Valor à vista (+)R$ 47.490
Combustível R$ 4,50/L ou R$ 2.150/mês (+)R$74.520
Manutenção (+)R$4.400
Seguro obrigatório DPVAT (+)R$10
Seguro R$ 2.547,11/ano (+)R$5.094
Custo de Oportunidade(taxa DI de 4,5% do dia 14/01 – B3)* R$2.090 (um ano) (+)R$4.370
IPVA Alíquota 4% (+)R$1.900
Depreciação 25% (-)R$11.873
Total em dois anos R$125.906
Total mensal  R$5.246 
*Se o motorista escolher alugar e investir os R$ 47.490 de uma única vez a uma taxa de juros de 4,5% ao ano, poderia conseguir um rendimento de R$ 4.370 ao fim de 2 anos.

Aluguel:

Aluguel: : carro econômico 1.0 
Despesas  Em dois anos 
Aluguel mensal 24×1.400 (+) R$33.600
Combustível R$ 4,50/L (+)R$74.520
Custo de Oportunidade** (-) R$ 4.370
Total em dois anos R$103.750
Total Mensal  R$ 4.322
Diferença entre comprar e alugar  R$1.104
*Subtraia (-) o valor do custo de oportunidade dos custos mensais porque será um dinheiro a mais entrando no fluxo de caixa do motorista: ele recebe esse valor advindo da aplicação.

Critérios e considerações

A simulação leva em conta um financiamento com juro 1,5% ao mês e no prazo de 24 meses. Após esse período o carro passa a ser um ativo do motorista, e por isso o valor do carro já com a depreciação é subtraído dos custos nas simulações.

O cálculo do financiamento foi feito na Calculadora do Cidadão, do Banco Central. O total desse financiamento de 24 parcelas de R$ 2.370,90 é R$ 56.901,60, sendo R$ 9.411,60 de juros. Nesse caso, o motorista não tem dinheiro para dar uma entrada, então representa o parcelamento do valor integral.

Em manutenção, foram considerados dois principais gastos: troca de óleo e filtro e troca de pneus. Como o carro é novo, terá um ano de garantia, e em tese, deve apresentar menos problemas nos primeiros dois anos de uso, levando em conta que as revisões são feitas.

Assim, são R$ 3.200 considerando 10 trocas de óleo e filtros em dois anos e mais R$ 1.200 da troca dos quatro pneus no mesmo período.

Para o dado de seguro, o InfoMoney consultou os dados de dezembro de 2019 da Minuto Seguros, consultoria especializada nesse critério. O valor vale para homens, de 35 anos, casados, que moram em SP e têm garagem para deixar o veículo.

Para combustível foi considerada a média nacional divulgada pela ANP em 2019 e o número de quilômetro diário percorrido, além da performance do carro (KM/L).

Para chegar ao valor de depreciação, o InfoMoney contatou a Kelley Blue Book (KBB), empresa de avaliação automotiva, que possui um simulador que mostra a variação do preço do carro conforme a quantidade de quilômetros rodados. Com isso, um Onix, como na simulação, que custa R$ 47.500, seria vendido para um terceiro particular por R$ 33 mil, considerando a quilometragem de 168 mil km em dois anos (230 km por dia).

Considerando as simulações de aluguel, o valor é a média de preços de três locadoras: Localiza, Movida e Unidas, considerando aluguel mensal para um carro da categoria econômica 1.0 – equivalente ao Onix da simulação.

No fim das contas, os dados mostram que alugar vale mais a pena do que comprar nas condições apresentadas em ambas as simulações. Mas vale lembrar que cada um pode ajustar os números para sua realidade para ter uma ideia de valores mais justas.

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