Prazos de resgate dos fundos podem limitar movimento de manada

Em dias de verdadeiro pânico dos investidores no mercado mundial, incluído o brasileiro, há quem se assuste com o tamanho das quedas e pense em se desfazer de seus ativos, seja de renda variável, para conter as perdas, ou até de renda fixa, para aproveitar os preços mais baratos na Bolsa.

Diante da intensa volatilidade e da falta de clareza sobre os próximos rumos da economia global, contudo, alocadores de recursos têm adotado uma postura de cautela, com mudanças apenas pontuais nas carteiras, em busca de um rebalanceamento, enquanto as incertezas não são dissipadas.

E o investidor precisa se atentar para a liquidez dos ativos antes de tomar uma decisão de venda. Isso porque, em momentos de forte queda dos mercados, nem sempre há quem queira comprar o seu ativo, no caso das negociações no mercado secundário. E, para o investidor de fundo, é fundamental analisar o prazo de resgate, que pode não estar casado com a sua necessidade de liquidez.

No grupo dos dez fundos de investimento com maior crescimento do número de cotistas de 2018 para 2019, três (Alaska Black Institucional, Equitas Selection e Brasil Capital 30) são de ações e têm prazos de resgate de cerca de 30 dias

Com um perfil de maior risco, os retornos desses fundos têm sido derrubados com a crise, com quedas da ordem de 20% entre os dias 21 de fevereiro (antes de as tensões dispararem ) até a última terça-feira (10).

“Muita gente que começou a colocar mais risco na carteira com a queda dos juros está vivenciando pela primeira vez uma crise, e está percebendo que aguenta menos risco do que achava”, afirma Leticia Camargo, planejadora financeira com certificação CFP.

Leticia lembra que é importante que o investidor estude as regras dos produtos antes da decisão de investimento, para estar ciente da liquidez da sua carteira, e entender ainda a diferença entre o prazo de liquidação e cotização do resgate.

O prazo de cotização diz respeito ao tempo entre a solicitação de resgate e a conversão das cotas do fundo em dinheiro. Já o prazo de liquidação trata do período tempo entre a cotização e o efetivo pagamento do resgate na conta do investidor.

“Às vezes, a pessoa investe em um fundo e não vê que o resgate é D+30, ou seja, que vai levar 30 dias para cotizar e mais dois para pagar, por exemplo”, diz.

Prazo de carência pode ser bom

Ainda que fundos com maior prazo para a liquidação dos pedidos de resgate estejam sofrendo neste momento, Guilherme Anversa, sócio e gestor da XP Advisory, lembra que a melhor opção para o investidor que está entrando no universo de ações continua a ser carteiras com prazos de resgate de 60 ou 90 dias, que têm, inclusive, um papel educacional.

“Esses prazos evitam que o investidor saia do fundo no pior momento. O mercado vai ter 60 ou 90 dias para ter uma chance de mostrar uma recuperação, até porque boa parte desses gestores investem em ações liquidas e poderiam ter prazos menores de liquidez, mas evitam, assim, a fuga de capital”, diz Anversa.

O gestor lembra que todos os fundos podem oferecer a possibilidade de uma saída antecipada, sem respeitar, portanto, os prazos previstos. Para isso, cobram uma taxa sobre o patrimônio investido, que geralmente varia de 5% a 15%. Ele não recomenda, contudo, essa alternativa ao investidor. “Essa é a pior opção para se fazer nesse tipo de produto”, ressalta Anversa, diante de grandes perdas a serem assumidas em um momento de incerteza, e a um alto custo.

Anversa lembra que é importante montar portfólios de investimentos buscando diferentes estratégias, inclusive selecionando gestores não tão expostos à renda variável, mas a moedas ou fundos quantitativos.

“A proposta é trabalhar com um portfólio diversificado e não apostar numa única classe de ativo. Para o investidor mais assustado com renda variável, tem um trabalho anterior, das razões pelas quais está comprando Bolsa. É uma questão importante para se perguntar”, assinala o gestor da XP Advisory. O foco deve estar em um horizonte de cinco a dez anos para a exposição em ações, destaca.

A Azimut Brasil Wealth Management também não cogitou recomendar aos clientes pagar uma taxa de saída de fundos para agilizar os resgates por conta da forte queda dos mercados, segundo Antonio Costa, CEO da gestora. “Nenhum cliente chegou com esse tipo de demanda”, diz.

Costa também reforça que a montagem de um portfólio leva em conta diferentes fatores, como o apetite a risco do cliente, seus objetivos e sua fase de vida, de forma a evitar um desalinhamento em momentos de maior tensão nos mercados.

Diante de um cenário ainda muito incerto, Marc Foster, head da Western Asset no Brasil, afirma que o melhor recado aos investidores é não fazer movimentos bruscos e manter um portfólio balanceado, com exposição a diferentes ativos.

“O investidor não deve se deixar seduzir pela queda recente, nem deve dobrar a aposta [porque ficou barato]. No meio do tiroteio, é melhor se abaixar, esperar e ter calma para entender para onde as coisas vão. Movimentos bruscos podem ser danosos para os seus investimentos”, diz.

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